Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
A inflação da Região Metropolitana do Recife (RMR), medida através do IPCA pelo IBGE, mostrou desaceleração no quarto mês do ano, mas ainda apresenta pressão nos preços. A taxa saiu de 0,82% em março para 0,59% em abril, o valor também supera os resultados de abril dos últimos dois anos, o que reflete uma dinâmica de maiores reajustes nos preços dos itens para a região. A variação positiva continua sendo influenciada pelas correções de grande parte dos serviços e só não mostrou variação ainda maior porque o preço dos alimentos apresentaram forte desaceleração em relação ao mês anterior.
Outro fator que continua segurando a alta dos preços na região é a fraca dinâmica do mercado de trabalho pernambucano, que ainda não se recuperou ao ponto de mostrar pressão inflacionária via demanda, já que a taxa de desemprego ainda se encontra elevada, o que consegue amenizar as variações dos preços do lado da oferta. Vale destacar também que apesar da aceleração dos últimos meses as expectativas do “mercado” em relação à inflação ainda sugere um ano tranquilo, pois a projeção no Relatório Focus continua sendo de uma inflação abaixo da meta de 4,5% ao ano.
O movimento de aceleração inflacionário, atualmente, vem sendo puxado por ambos os tipos de preços, administrados e livres, seja com reajustes autorizados pelo governo ou por problemas na produção dos itens. Mas, a força da variação positiva dos preços administrados estão maiores, devido, principalmente, à falta de reajustes no ano anterior, onde o período eleitoral adiou o aumento de grande parte dos serviços públicos, como as passagens de ônibus, por questões de campanhas eleitorais, pressionando os preços em 2019.
Desta vez, o grupo que mais pressionou a taxa geral dos preços foi “Saúde e cuidados pessoais”, com alta de 1,68%, contribuindo com 0,23 p.p. para a formação geral da taxa. O grupo sozinho representa quase 40% da taxa de abril, puxado principalmente pelos reajustes nos preços dos produtos farmacêuticos, de higiene pessoal e dos perfumes. Seguido pela alta do grupo de “Transportes”, que mostrou desaceleração em relação a março, pois saiu da conta os reajustes das passagens de ônibus, mas ainda assim mostrou grande pressão, representando 29% da taxa do mês. O grupo, atualmente, encontra pressão vinda das passagens aéreas, que, após a saída da empresa Avianca do mercado brasileiro, vem apresentando constantes reajustes, em razão da pouca concorrência, com apenas três empresas dominando praticamente todo o mercado de passagens do país. Além disso, o preço dos combustíveis também conseguiu contribuir, seguindo o movimento de reajustes da gasolina e do etanol.
O grupo “Alimentação e bebidas” apresentou pressão inferior ao dos meses anteriores, mas ainda assim se encontra com uma das maiores variações de abril. O grupo mostrou alta de 0,49% e por ter o maior peso na composição geral da taxa impactou de maneira forte o IPCA, representando 22% do total. Os itens com as maiores variações positivas foram os tomates e as carnes, o primeiro devido à baixa produção e o segundo a mudanças de alíquotas na tributação de venda de alguns produtos. Por fim, os valores cobrados pelo botijão de gás e energia elétrica residencial também contribuíram para que o grupo “Habitação” mostrasse certa estabilidade em relação ao mês anterior, com taxa de 0,62% ante 0,73%.
Na outra ponta, os demais grupos mostraram variação negativa ou nula em relação ao mês de março, com destaque para grande parte dos preços dos itens de “Vestuário” e “Artigos de Residência”. É importante frisar que a queda nos preços em abril, mês anterior à comemoração do Dia das Mães, é a tentativa dos lojistas de reduzir o estoque antigo para focar em produtos mais novos voltados a venda para as mães.
No acumulado do ano, janeiro a abril, a taxa em 2019 alcançou os 2,28%, muito superior ao mesmo período do ano anterior, quando o IPCA da RMR nos quatro primeiros meses do ano era de apenas 0,32%. É importante destacar que os grupos que mais contribuíram para este resultado foram “Alimentação e bebidas” e “Transportes”. Em 12 meses, esta já é a quarta alta consecutiva para a inflação da região, encarecendo grande parte dos itens que compõem a cesta básica do pernambucano e criando restrição ainda maior para uma população que é penalizada com altos níveis de desemprego.
O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980 e se refere às famílias com rendimento monetário de 01 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande e Brasília.
Referências: GERÊNCIA DE INVESTIMENTOS/BANCO CENTRAL DO BRASIL. Focus – Relatório de Mercado