Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
A inflação da Região Metropolitana do Recife (RMR), medida através do IPCA pelo IBGE, continua com o movimento de desaceleração em junho. Desta vez, o recuo foi ainda mais forte, atingindo os -0,08% ante os 0,33% do mês anterior. É importante frisar que a menor pressão no indicador em junho vem sendo uma característica nos últimos anos, visto que, em 2017, a taxa também apresentou valor negativo (-0,09%), o que, provavelmente, não ocorreu em 2018 (1,47%) devido à greve dos caminhoneiros, que acabou gerando uma verdadeira crise de abastecimento dos produtos e puxou a inflação para valores bem destoantes dos comportamentos dos resultados anteriores.
Variáveis importantes atuam em conjunto para a manutenção da inflação em valores ainda considerados baixos. A principal delas ainda é a elevada taxa de desemprego, que no Estado de Pernambuco atinge mais de 600 mil pessoas, além disso o número de pessoas subutilizadas e desalentadas é grande, aumentando o número de pessoas sem renda, o que, consequentemente, desaquece a demanda e segura os reajustes dos preços. Outro ponto importante é a redução da pressão cambial, onde o andamento da Reforma da Previdência somado a um ambiente externo menos incerto também contribui para segurar o valor de itens importados e que fazem parte da confecção de produtos de consumo diário, como o caso do trigo. Desta forma, a atual conjuntura econômica, ainda de lenta recuperação, é um dos fatores mais dominantes para que a taxa de inflação não apresente pressões significativas.
Vale lembrar também que o mês de junho em 2019 foi impactado pelas fortes chuvas ocorridas em cinco dias da primeira quinzena do mês, o que acabou contribuindo também para segurar o consumo das famílias e consequentemente parte do tradicional aumento de preços sazonais na época, que ocorrem devido às comemorações do Dia dos Namorados e dos Festejos Juninos. Nos anos anteriores, a exemplo de 2015 e 2016, as chuvas ocorreram nos dias 30 e 31 de maio, respectivamente, o que ainda acabou segurando o consumo no início de junho.
O resultado de junho de 2019 está concentrado em praticamente um grupo, o de “Habitação”, que variou -1,10% ante 1,57% do mês anterior. O resultado atual puxou o índice geral para baixo, visto que contribuiu com -0.16 pontos percentuais para a composição da taxa de junho. Diferente do mês anterior, onde o que mais apresentou pressão no grupo foi a energia elétrica residencial, neste mês foi o custo da energia que apresentou a menor variação, recuando -7,17% e criando uma deflação no grupo. A segunda melhor contribuição para que a taxa caísse ficou com “Artigos de residência”, com queda de -0,69% ante 0,42% de maio.
Os principais impactos vieram da redução nos preços dos aparelhos eletroeletrônicos e dos móveis. Outros três grupos, “Alimentação e bebidas”, “Despesas pessoais” e “Comunicação”, também apresentaram deflação mensal, mas de maneira modesta, contribuindo cada um com -0.1 p.p. para a formação geral da taxa. Na outra ponta, e com variação positiva significativa, ficou “Saúde e cuidados pessoais”, que mostrou alta de 0,88%, contribuindo com 0.12 p.p. em junho. Uma grande quantidade de itens, como os produtos farmacêuticos e os de serviços de saúde, de maneira geral, tiveram reajustes que puxaram o resultado para cima.
No acumulado do ano, janeiro a junho, a taxa em 2019 alcançou os 2,54%, mostrando queda em relação ao acumulado dos últimos cinco meses, quando o IPCA da RMR acumulava 2,63%. É importante destacar que os grupos que mais contribuíram para este resultado foram “Alimentação e bebidas”, “Saúde e cuidados pessoais” e “Educação”. Em 12 meses, o índice mostrou uma desaceleração, saindo de 4,42% para 2,83%, deixando o IPCA da RMR novamente abaixo do piso da meta da inflação, atualmente em 30,%.
Os cinco produtos com maior variação positiva em junho de 2019 para a RMR foram cebola (12,53%), passagem aérea (11,65%), leite longa vida (9,06%), abacaxi (7,45) e banana-da-terra (6,46%). Na outra ponta, os produtos que tiveram o preço apresentando variação negativa foram o feijão-carioca (-12,29%), feijão-mulatinho (-11,63%), tomate (-11,03%), laranja-pera (-10,36%) e o coentro (-9,07%).
O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980 e se refere às famílias com rendimento monetário de 01 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande e de Brasília.
Referências: ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO – IPCA – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.