Por Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE (rafael.ramos@fecomercio-pe.com)
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume das vendas do varejo pernambucano voltou a mostrar variação negativa significativa em dezembro, caindo -5,1%. É o pior resultado para o indicador, nos meses de dezembro, desde a criação da série no ano 2000, além de mostrar uma variação mais acentuada do que em junho de 2018 (-2,1%), período de greve dos caminhoneiros.
O valor é praticamente o dobro do nacional (-2,2%) e freia o cenário de retomada das vendas, no último trimestre do ano, que poderia ter se fortalecido no pós-eleições. É importante destacar que o movimento de antecipação das vendas incorporado pela população após a importação da Black Friday é um dos principais motivos para a queda tão acentuada no último mês do ano. O período vem gerando uma adesão e um faturamento cada vez maior, confirmando que a data já foi integrada ao calendário de consumo dos brasileiros. A festividade tem como principal característica promoções agressivas, com altos percentuais de descontos, o que acabou contribuindo para a queda da inflação em novembro.
Vale ressaltar que é relevante o retorno do debate sobre a criação de uma data que possua expressividade semelhante à data americana, retirando o planejamento do varejo em relação a promoções do mês de novembro e transferindo para meses de renovação dos estoques e mais propícios a concessão de descontos. É importante frisar que a menor adesão dos lojistas a Black Friday deve ser feita de maneira gradual, já que é preciso aguardar que a população assimile a nova data e a consolide em seu calendário, deslocando os esforços do varejo de maneira progressiva.
O volume de vendas de dezembro vêm mostrando recuo, nos últimos cinco anos, com uma única exceção, em 2016, quando o volume cresceu modestos 0,7%. As condições acabam afetando principalmente os estabelecimentos menores, que não possuem margem para reduzir os preços, mostrando-se menos atrativos em relação às promoções. Além disso, o período é de elevação do poder de compras, o que acaba deixando a concorrência dos menores em relação aos maiores ainda mais crítica, criando dificuldades em um período em que o comerciante menor tinha maiores chances de alavancar as suas vendas.
Já o varejo ampliado pernambucano, setor que agrega todos os índices do varejo mais as atividades de “veículos, motocicletas, partes e peças” e “material de construção”, mostrou desempenho menos deteriorado que o restrito no comparativo mês, caindo -2,0%. As vendas ligadas ao setor de veículos conseguiram salvar o comércio, influenciado principalmente pelo maior acesso ao crédito das famílias, segurando a taxa geral na zona positiva. Nos demais indicadores, como o mensal e no acumulado do ano, o ampliado também superou o restrito, crescendo 2,4% e 1,7%, respectivamente.
Já no indicador mensal, mês atual em relação ao mesmo mês do ano anterior, o varejo pernambucano mostrou queda após dois meses consecutivos de alta, recuando -0,3%, ante crescimento 1,8% e 1,0% de outubro e novembro, respectivamente. A taxa geral foi puxada pelo fraco desempenho das vendas dos “hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumos”, que recuou -2,3% e na composição geral da taxa possui o maior peso, em torno de 39%.
Desta forma, pequenas variações negativas ou positivas contribuem de maneira significativa para o valor final. Outros dois segmentos que mostraram quedas expressivas foram “tecidos, vestuários e calçados” e “equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação”, com quedas de -5,8% e -26,4%, respectivamente. Ambos com impactos em relação ao comportamento de antecipação das compras criado principalmente após a entrada da Black Friday no calendário de consumo brasileiro.
O setor com o desempenho mais positivo foi o de “livros, jornais, revistas e papelaria”, que por partir de uma base muito negativa tem mais facilidade ter variações positivas com modestos crescimentos nas vendas. Lembrando que o crescimento pode estar sendo motivado também pela antecipação das compras de material escolar, com as famílias mais treinadas e valorizando mais a renda, tentando escapar assim da alta sazonal dos preços dos principais itens demandados pelas escolas.
No acumulado do ano, as vendas do varejo restrito pernambucano apresentaram desaceleração forte, com a taxa saindo de 4,7%, em 2017, para -0,8%, em 2018. Os principais responsáveis pelo recuo foram as quedas nas vendas dos segmentos de “combustíveis e lubrificantes”, “tecidos, vestuários e calçados”, “móveis e eletrodomésticos” e “equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação”. Ambos os setores impactados em especial pela greve dos caminhoneiros, Copa do Mundo e eleições, além de um mercado de trabalho pernambucano ainda muito deteriorado, sendo um dos principais entraves para a recuperação da economia e do desempenho do comércio.
A taxa de desemprego do Estado mostrou modesta melhora em relação ao último trimestre de 2017, assim como a geração de vagas formais, mesmo voltando a ficar positiva após três anos de queda. A expectativa para 2019 é de que o volume apresente recuperação em relação a 2018, visto que as projeções para indicadores de crédito, emprego, renda, investimento e inflação se encontram mais propícias a um cenário positivo.
Referência: Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). Dezembro/2018.